Frei Vicente de Santo António,
nasceu em 1590 no Castelo de Albufeira. Foi ordenado sacerdote aos 27 anos. Foi
beatificado na Igreja Católica pelo Papa Pio IX
Nos dias
31 de Agosto e 1 de Setembro, Albufeira presta homenagem a Beato Vicente, em
tributo à sua obra evangelizadora por terras orientais. As festividades deste
ano terão especial ênfase na inauguração do Centro Pastoral Beato Vicente de
Albufeira, cerimónia que será presidida no dia 1 de Setembro, às 18h00 pelo
Bispo do Algarve. Esta é uma iniciativa da Paróquia de Albufeira, com a
colaboração da Câmara Municipal.
Programa:
31 de Agosto
21h30 |
Procissão de Velas (concentração no parque do Pingo Doce/próximo da rotunda das
Minhocas).
1 de Setembro
17h30 |
Acolhimento ao Bispo do Algarve, autoridades e convidados, no átrio do novo
Centro Pastoral.
18h00 |
Bênção do Centro Pastoral e missa solene com crisma.
20h00 |
Jantar partilhado, seguido de convívio animado por vários grupos da cidade.
a 7 de
Julho de 1867.
Frei Vicente de Santo
António, missionário, viajante e mártir de Albufeira
(Albufeira, 1590 – Nagasáqui, 3 de Setembro de 1632)
Em Abril de 1581, Filipe II de Espanha era aclamado rei de
Portugal nas cortes expressamente reunidas para o efeito em Tomar. Encerrava-se
assim um conturbado processo de sucessão dinástica, aberto pela morte de el-rei
D. Sebastião em Alcácer Quibir três anos antes. Inaugurava-se a União Ibérica
que se estendeu até 1640.
Um exemplo singular de múltiplos cruzamentos de fronteiras no
tempo da União Ibérica é-nos fornecido pela biografia de Frei Vicente de Santo
António, missionário de origem algarvia, que foi terminar os seus dias no
remoto arquipélago do Japão.
Natural de Albufeira, onde nasceu em 1590, Vicente de
Carvalho (nome de baptismo de Frei Vicente de Santo António), era filho de
António Simões, um médico desta cidade e de Catarina Pereira, que o educaram na
piedade e nos bons costumes.
Oriundo de uma família nobre, Vicente dedicou-se aos estudos
na sua terra natural até aos 14 anos, idade com que partiu para Lisboa, onde
estudou durante mais oito anos (de 1604 a 1612), talvez no Convento da Graça,
da Ordem de Santo Agostinho, dadas as suas posteriores ligações a esta
congregação religiosa. Aí experimentou as seduções da vida fácil lisboeta, como
ele próprio confessa numa das suas Cartas
do Japão. Aluno brilhante e dotado de qualidades de chefe, tudo para ele
era fácil. Revelou-se, então, um bom cantor, músico, dextro tocador de
instrumentos, conhecedor de línguas clássicas, desenhador, estudante de
Medicina e esgrimista.
No entanto, foi a sua grande vocação religiosa que se
sobrepôs, sobretudo após a morte de sua mãe, quando ele tinha 26 anos de idade, fazendo-o tomar a decisão de
tornar-se padre. Em 1617, é ordenado sacerdote em Lisboa, aos 27 anos de idade.
Em 1619, largava do Tejo rumo a Cádis, de onde logo embarcou
para o México, aí chegando no mesmo ano, após uma rápida travessia do
Atlântico.
No ano de 1621, quando já se encontrava no México, ingressou
na congregação espanhola da Ordem dos Agostinhos Recoletos. É difícil
determinar as razões que levaram o algarvio a rumar ao Novo Mundo, uma vez que
os agostinhos desenvolviam atividades missionárias em variadas regiões do
litoral da Ásia desde 1572, sob o beneplácito do Padroado lusitano. Para um
missionário português, teria sido mais lógico embarcar em Lisboa na carreira da
Índia, em direção a algum dos estabelecimentos orientais mantidos pela coroa de
Portugal. Talvez a União Ibérica tenha efetivamente facilitado a opção pelas
missões americanas.
Mas o nosso algarvio pouco se demoraria em terras mexicanas.
Em 1622, menos de um ano depois de ser formalmente admitido na congregação
espanhola, assumindo-se missionário, largaria do porto de Acapulco com destino
às Filipinas, usando já o nome de Frei Vicente de Santo António. Chegou a
Manila em Julho de 1622, onde, escassos dois meses mais tarde, professa no
convento agostinho de São Nicolau de Tolentino.
Em Fevereiro de 1623, na companhia de alguns outros
missionários agostinhos, franciscanos e dominicanos, já deixava Manila com
destino às ilhas nipónicas, onde chegou em finais do mesmo ano, depois de uma
acidentada viagem com escala no litoral da China, provavelmente a bordo de uma
embarcação mercantil filipina.
A situação no Japão, entretanto, conhecera profundíssimas
alterações desde 1543, ano dos primeiros - e amistosos - contatos
luso-japoneses. A missão jesuíta que, em finais do século XVI tinha conhecido
extraordinário sucesso com a conversão de cerca de 300 mil japoneses, estava
agora em completo declínio. A dinastia Tokugawa, depois de um rápido processo
de unificação política, controlava praticamente todo o arquipélago desde 1603 e
decretara em 1614-1616 a expulsão de todos os missionários católicos do
território japonês. Embora os negócios entre os portugueses e o Japão
continuassem a desenrolar-se sem problemas de maior, através das viagens anuais
da grande nau de Macau, com benefícios para ambas as partes, as atividades
proselíticas dos missionários europeus foram crescentemente dificultadas por
sistemáticas e violentas perseguições desenvolvidas pelo poder central
nipónico.
Frei Vicente chegava, portanto, ao Japão em má hora, numa
época bastante conturbada, em que os seus governantes, receando a propagação do
cristianismo, iniciam grandes perseguições religiosas aos cristãos.
Porém, seguindo o exemplo de muitos outros dos seus colegas
missionários, desenvolveu atividades religiosas de forma clandestina, a partir
do porto luso-nipónico de Nagasáqui e, segundo parece, com base no estudo
apurado da língua japonesa. Os religiosos europeus, disfarçados de mercadores,
procuravam dar assistência às cristandades locais, as mais das vezes em
ajuntamentos noturnos e secretos.
Frei Vicente viu-se obrigado a mudar de traje e de nome,
fazendo-se caixeiro ambulante pelas ruas de Nagasáqui para poder entrar nas
casas e introduzir-se nas famílias, onde converte os gentios e consola e
encoraja os cristãos perseguidos. Durante anos, trabalhou na catequese,
pregando a Boa Nova e administrando os Sacramentos.
Mas o ambiente era cada vez mais hostil, pois as autoridades
centrais nipónicas multiplicavam as prisões e as execuções de cristãos, numa
deliberada política de extinção do cristianismo, pois a religião europeia era
encarada como um elemento radicalmente desestruturador das tradicionais
solidariedades sociais nipónicas, baseadas no bushido, um código de honra religioso que ligava o senhor aos seus
vassalos.
Fugindo a essas perseguições, Frei Vicente de Santo António
refugiou-se nas montanhas, onde permaneceu durante 6 anos, nunca deixando de
dar catequese aos nativos.
Em finais de 1629, Frei Vicente é aprisionado na ilha de
Firaxima, sendo logo de seguida transferido para Nagasáqui, juntamente com
outros religiosos europeus.
Em 2 de Setembro de 1632, foi-lhe lida a seguinte mensagem:
“Manda o Imperador que no lugar já preparado sejam os seis queimados vivos, se
não renegarem antes a lei que pregam, se o fizerem, porém, ficam livres e serão
favorecidos e honrados pelo Imperador”.
Frei Vicente recusa a apostasia (renúncia de uma fé) que lhe
fora proposta pela corte imperial, juntando assim o seu destino ao de muitos
outros mártires do Japão, acatando o martírio como dádiva de Deus, a 3 de
Setembro de 1632. Resistiu admiravelmente a todos os tormentos e acabou
queimado pelas chamas de uma fogueira nas imediações de Nagasáqui.
Nesse mesmo ano, era aberto em Macau o processo de
beatificação do missionário de Albufeira, o qual só seria favoravelmente
despachado quase dois séculos e meio depois.
Foi beatificado na Igreja Católica
pelo Papa Pio IX a 7 de Julho de 1867.
Tornou-se padroeiro
de Albufeira em 1965.
Desde então, Albufeira prostra-se diante do testemunho
eloquente deste seu filho que enobreceu a fé dos seus antepassados, tendo
levado até às terras longínquas do Japão a mensagem do Evangelho de Jesus
Cristo.
As suas Cartas provenientes do Japão revelam a grandeza de
alma deste homem e deste missionário filho de Albufeira. Desde então, esta
cidade nunca mais deixou de lhe prestar culto no dia do aniversário do seu
martírio a 3 de Setembro. Esse dia foi durante alguns anos considerado e vivido
em Albufeira como verdadeiro Feriado Municipal. Essa tradição foi retomada nos
últimos anos, pelo pároco de Albufeira, Cónego José Rosa Simão, com as festas
de São Vicente.
Bibliografia:
- Nuno Campos Inácio (Genealogia
do Algarve)
- Rui Manuel Loureiro (O ALGARVE da antiguidade aos nossos dias, 1999)
- Adelaide Amado, Cronologia do
Concelho de Albufeira. Edição do Município de Albufeira, 1995.
- Câmara Municipal de Albufeira/Arquivo Histórico/JDACT