sábado, 10 de agosto de 2013

Anti Portagens na A22 | Vigília junto à casa de férias de Cavaco Silva

A concentração estava marcada para as 20:30 horas mas os manifestantes chegaram às 21 horas porque, segundo disseram, “alguns de nós ficaram presos no inferno que é circular na EN 125. Encontrámos dois acidentes na estrada e outro na faixa contrária”.


Um grupo de utentes da A22 protestou contra às portagens, ontem à noite (6.ª feira, 9 de agosto), junto à casa de férias do Presidente da República, na Aldeia da Coelha, em Albufeira, onde montaram uma vigília, aguardando ser recebidos por Cavaco Silva.
Os manifestantes, na maioria da Comissão de Utentes da Via do Infante (CUVI), concentraram-se cerca das 21 horas junto ao perímetro de segurança montado na estrada que dá acesso à casa de férias do chefe de Estado, uma vez que as autoridades policiais impediram a sua passagem, colocando grades metálicas a bloquear a estrada.
O grupo, que ostentava cartazes contra o Governo e as portagens e um espantalho com uma fotografia do rosto de Cavaco Silva, aproveitou ainda para pedir ao Presidente que demita o executivo, entre outras palavras de ordem.
Com narizes de palhaço, alguns dos manifestantes gritavam ainda frases como «os palhaços somos nós», enquanto faziam algum barulho com um instrumento de percussão e chocalhos.

João Martins (CUVI): “Estamos aqui pela abolição das portagens, por um Algarve livre de portagens e, num segundo momento, estamos pela demissão do Governo”
João Martins, um dos manifestantes, disse aos jornalistas que “estamos aqui pela abolição das portagens, por um Algarve livre de portagens e, num segundo momento, estamos pela demissão do Governo de Pedro Passos Coelho para que possa ser eleito um Governo legítimo, porque este Governo não é legítimo, e para que tenhamos decência na vida pública e que venha um Governo que definitivamente elimine as portagens na Via do Infante. É isso que estamos aqui a fazer. Vamos acampar à espera que alguém nos ouça porque não vamos desistir de lutar pela abolição de portagens na Via do Infante», acrescentando que o grupo reivindica também a resposta a uma carta endereçada ao PR no verão passado, quando foi feita uma ação semelhante no mesmo local.
Sobre se pensariam que iriam ser recebidos por Cavaco Silva, João Martins sustentou: “Nós já não esperamos nada deste Governo nem deste Presidente da República. Este Presidente da República é claramente o Presidente dos credores, o presidente da troika, é um Presidente que está de costas voltadas para o seu povo e nós exigimos a demissão deste Governo para que se introduza alguma decência na vida pública, que se perdeu neste momento, e a abolição das portagens na Via do Infante, que é decisivo para a qualidade de vida dos algarvios”. Quanto ao reduzido número de manifestantes, “o que posso dizer é que as medidas da troika são tão devastadoras que as pessoas já perderam a capacidade de lutar pelos seus direitos. Somos poucos mas bons, não vamos desistir porque é por uma causa justa, o senhor Presidente nasceu e cresceu aqui perto (Boliqueime), junto à Estrada Nacional 125, ele, melhor que ninguém, sabe que é um inferno circular na EN 125, sabe a Via do Infante foi construída em alternativa à Estrada Nacional 125 e não é a EN 125 que é alternativa à Via do Infante. A estrada está paga com fundos europeus, dá prejuízo ao erário público, só a concessionária é que lucra com isto, portanto, estamos perante mais uma PPP ruinosa para dar cabo da vida de portugueses. Portanto, ponham-se a rasgar contratos dos salários das pessoas, contratos com os reformados, contratos com os subsídios de desemprego, desde que se possa rasgar facilmente os contratos das PPP que são desastrosas, neste caso, a PPP da Via do Infante”, levantando a voz com um grito: “Senhor Presidente Cavaco Silva, salve o Algarve!”, acrescentando: “Vamos esperar que Cavaco Silva nos receba. O nosso representante máximo da Comissão de Utentes da Via do Infante traz uma reivindicação, que é a resposta a uma carta que deixámos aqui no ano passado e vamos esperar que nos recebam, o senhor Presidente ou alguém responsável por ele e, portanto, não vamos sair daqui até sermos recebidos”.

João Vasconcelos: “Estamos em permanente estado de guerra”
Outro dos dirigentes da CUVI, João Vasconcelos, disse ainda aos jornalistas que, segundo dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), desde que foram introduzidas as portagens, em dezembro de 2012, já se registaram 60 mortes e cerca de 3000 feridos na EN 125. “Portanto, estamos em permanente estado de guerra. É por isso que estamos aqui a protestar. Para além das falências, de quase 100 mil desempregados, do sufoco tremendo que é circular na Estrada Nacional 125, estamos aqui também – e pedimos realmente – para saber de uma resposta a uma carta que no ano passado enviámos ao Presidente da República. O senhor Presidente da República não pde lavar as mãos como Pilatos porque, para além de ser algarvio, ressuscitou um Governo que continua a manter as portagens. Portanto, se este Governo não tem coragem para acabar com as portagens, então o senhor Presidente da República que tenha essa coragem. Demita este Governo e dê lugar a outro Governo que, numa primeira medida, faça a abolição das portagens. Também queríamos lamentar que deputados da Nação, representando o Algarve na Assembleia da República, votaram sistematicamente contra resoluções e projetos lei de partidos da oposição que propõem a abolição das portagens. Esses senhores não dignificam e não representam o Algarve. É uma vergonha o que se passa. Por outro lado, a 125, para além do tráfego, neste momento é também uma via que está degradada, variantes que estavam previstas não vão ser construídas, e mais: Diz-se que não se podem abolir as portagens porque temos que ter em conta a situação financeira do País. É mentira! No ano passado, só a Via do Infante deu um prejuízo de 40 milhões de euros. Ou seja, as receitas cobram apenas 34% das despesas. Ou seja, cada carro que passa na Via do Infante, o Estado paga um subsídio de 50 euros à concessionária. É por isso que estamos aqui”.
Os manifestantes mantiveram-se junto à casa de férias de Cavaco Silva ao longo da noite, confraternizando e até mesmo fazendo um piquenique.
De referir que aquela zona foi intensamente atacada por mosquitos, supostamente vindos de Armação de Pêra, ali ao lado, pelo que tanto manifestantes, como jornalistas e agentes da GNR foram sendo sistematicamente picados. Se calhar, foi por isso que Cavaco Silva não saiu de casa…
Além desta ação, a CUVI convocou ainda protestos para amanhã, domingo, na Manta Rota, em Vila Real de Santo António, uma de manhã, em frente à casa onde Passos Coelho está a passar férias, e outra, à tarde, na praia.
A comissão avisou que deverá fazer uma nova tentativa de contato com o Primeiro Ministro na Festa do Pontal, que se realiza no Calçadão de Quarteira a 16 de agosto e que contará com a presença de Pedro Passos Coelho.