Albufeira foi palco,
ontem à noite, de mais um protesto pacífico contra a Tourada na cidade. Dezenas
de pessoas gritaram “Basta de Tourada, Basta de Tortura” em frente desta que é a
única praça fixa no Algarve.
Manifestantes escoltados por agentes da GNR a cavalo |
Tudo começou pelas 20:15 horas, com concentração no parque
de estacionamento junto à rotunda da Corcovada. Os manifestantes dirigiram-se
então para a Praça de Touros de Albufeira, desta vez escoltados por dois
agentes da GNR a cavalo, os quais chegaram mesmo a cortar o trânsito para os
manifestantes atravessarem a passadeira em maior segurança. Chegados junto à
Praça de Touros da GNR, os manifestantes foram confinados a um espaço no
passeio protegidos por grades metálicas e quatro elementos da GNR. Um grande
exemplo de humanismo dado por esta força de segurança, preocupada com a
integridade física dos manifestantes, apostando na prevenção contra eventuais
hostilidades por parte de pessoas ligadas à organização do ato bárbaro, como
tentaram fazer em protestos anteriores.
Agentes da GNR a cavalo cortam o trânsito para os manifestantes atravessarem a estrada em segurança |
De megafone na mão e acompanhados pelos restantes
manifestantes, pelo ar ecoaram palavras em português e em inglês contra a
barbaridade que iria ocorrer no interior da Praça de Touros, procurando demover
os que estavam nas filas das bilheteiras a desistirem e irem-se embora,
alertando que o que iriam ver era tortura contra animais e sangue a escorrer.
Aos manifestantes, foram-se juntando outras pessoas, maioritariamente
estrangeiros, entre as quais destacamos um cidadão holandês e uma cidadã grega,
os quais pediram o megafone e também eles gritaram palavras contra as touradas
nas suas línguas, pedindo aos seus concidadãos que não fossem á tourada, um
espetáculo muito apreciado no Coliseu da Roma Antiga há mais de 2000 anos atrás.
Dois milénios depois, ainda há quem defenda, promova e
licencie este tipo de espetáculo degradante e chocante para o ser humano e bárbaro
para com os animais. Mais grave ainda, continua a haver quem os licencie. E não
são apenas os touros maltratados. São também os cavalos que são forçados a
serem abatidos pelos graves ferimentos provocados pelas investidas dos touros;
São também os ferimentos graves infligidos aos forcados e cavaleiros pelas
investidas dos touros, alguns dos quais ficam paraplégicos e alguns acabam por
morrer.
Pessoas saem das filas e vão ver e ouvir a mensagem dos manifestantes |
Recordamos aqui um debate realizado por um canal de televisão
espanhol sobre a tourada em que o moderador perguntou diversas vezes a um
promotor e defensor das touradas se a tourada justifica a perda de uma vida
humana e esse indivíduo se esquivou sempre a responder. Chegados ao final do
debate, o moderador dirigiu-se a esse indivíduo e disse-lhe: «Bom, chegamos ao
fim do programa e o senhor não respondeu à minha pergunta. A tourada justifica
a perda de uma vida humana?». Esse indivíduo, já não aguentando a pressão pela
forte insistência na pergunta, finalmente respondeu: «Sim, a tourada justifica
a perda de uma vida humana». Está tudo dito. Ainda existem pessoas que defendem
a existência dos gladiadores da Roma Antiga. E reafirmamos: o mais grave é
haver quem licencie as suas atividades. A CULPA NÃO É DE QUEM FAZ, É DE QUEM
DEIXA. Temos que aceitar a existência de seres humanos diminutos, sem escrúpulos,
sem princípios, sem humanismo, bárbaros e animalescos. O papel da sociedade é
promover a sua evolução moral e intelectual. Mas quando são os próprios
governantes a promoverem as suas atividades, a pressão tem de vir de baixo, ou
seja, da população, até que aqueles que nós elegemos perceberem que a
humanidade está em constante evolução e que algumas ditas «tradições» estão
completamente caducas, não passando de aberrações defendidas por seres
desumanos e legalizadas por pessoas no mínimo estranhas que lhes dão cobertura.
Até quando?
Um jornalista deve ser imparcial e noticiar com
objetividade. No entanto, neste e em casos similares, sempre que se trate de
seres sem voz, incapazes de defenderem os seus direitos – que os têm -, abrimos
uma exceção. O PlanetAlgarve apoia incondicionalmente todos os cidadãos de
Albufeira que se manifestam contra todo e qualquer mau trato aplicado aos
animais. Este é um meritório exemplo do humanismo dos cidadãos albufeirenses,
bem distinto daqueles que decidem sobre o seu destino, que não pensam duas
vezes quando se trata de arrecadar receita.
É uma pena que Albufeira, Capital do Turismo, com tantas
belezas naturais e tanta oferta turística de qualidade, fique assim manchada de
sangue na sua reputação.
Recordamos que durante o período em que os manifestantes vão
gritando as suas palavras de ordem em defesa de quem não o pode fazer, são inúmeras
as pessoas que vão abandonando a Praça de Touros, visivelmente horrorizadas com
o chocante espetáculo a que assistiram, agarradas aos filhos, ainda crianças,
desiludidas consigo próprias por os terem arrastado para aquilo. Dirigem-se aos
manifestantes e dão-lhes razão, arrependidas de terem ido ver aquilo, algumas
das quais de lágrimas nos olhos, pensando que iriam passar uma noite bem
passada em família, afirmando que o que se passa no interior da praça é tudo
menos um espetáculo familiar, estupefactas por espetáculos deste tipo serem
licenciados num país da União Europeia no Séc. XXI.
Cidadão holandês dirigindo-se na sua língua aos seus compatriotas |
A grande dinamizadora do grupo, Carla Madeira Matias, diz
que, “para provar que Albufeira não é Viana, onde a carga policial envergonhou
essa classe profissional e ofendeu o direito constitucional de manifestação, a
GNR de Albufeira, que sempre esteve presente em todos os nossos protestos,
zelando pela nossa integridade física, ainda nos brindou com uma magnífica
escolta a cavalo até à praça!”, acrescentando: “A Cidade de Albufeira não quer
Tourada e isso reflete-se cada mais na assistência que tem vindo a decrescer
dentro da praça. Os turistas começam a devolver os bilhetes e a perceber que
este tipo de "espetáculo" em nada é condizente com a anunciada não
crueldade com animais e apenas "dança" ou brincadeira. Muitos saem de
lá enojados, chorando e chocados e sentem-se completamente enganados! E por
isso retornam para os seus países prontos para divulgar que em Albufeira se
pratica este tipo de crueldade!
Cidadã grega dirigindo-se em grego aos seus compatriotas |
Queremos Turismo em Portugal e no Algarve! Não queremos "espetáculos"
que nos envergonhem!”