José Carlos Leandro, vice-presidente da AHETA |
Cinco
hotéis de Albufeira aderiram ao sistema do "tudo incluído" para
garantir melhores taxas de ocupação. "Não pago ordenados com taxas de
ocupação", contrapõe um hoteleiro, que rejeita a massificação.
A
hotelaria algarvia adoptou o pacote de alojamento com "tudo
incluído", à semelhança do modelo usado nos resorts das Caraíbas.
"Estão a matar o Algarve", alerta José Carlos Leandro,
vice-presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do
Algarve (AHETA), criticando a iniciativa. "O Algarve não é as Caraíbas,
não tem dimensão nem foi concebido para esse tipo de oferta", avisa.
O
turista tradicional, que gosta de descobrir o sítio onde se encontra, defende
José Carlos Leandro, "não gostará de se sentir um prisioneiro, com
pulseira, dentro de um empreendimento". Quem aderiu ao sistema, lançado
por grandes operadores turísticos, discorda: "Temos que nos ajustar ao
mercado", diz o director do grupo Vila Galé, Carlos Cabrita, lembrando que
a cadeia hoteleira fez este ano "uma aposta" numa das nove unidades
que possui na região, e o resultado tem sido "muito positivo, em termos de
adesão de clientes estrangeiros e portugueses".
O
dirigente da AHETA considera uma "ilusão" a política seguida por
alguns hoteleiros. "Estão a afundar o Algarve porque mais tarde ou mais
cedo os grandes operadores ficam com tudo na mão, são eles que decidem, fazem o
preço e ditam as regras". O director do Vila Galé admite que já se
verifica um pouco isso. "Os operadores é que nos propuseram esta
modalidade", revela. O Vila Galé Náutico, em Armação de Pêra, com 225
quartos, com o sistema "tudo incluído" desde Março, pratica preços
por pessoa de 70 a 75 euros, na época baixa, e de 110 euros, no Verão.
A
zona de Albufeira é a que está a ser mais procurada para entrar neste programa
de pacote turístico. Cinco unidades estão a funcionar neste sistema. O cliente
aloja-se numa unidade e pode comer e beber durante todo o dia, sem pagar mais
por isso. O preço final é inferior ao custo do serviço à la carte praticado na
generalidade dos hotéis. O modelo há muito que vigora nos destinos exóticos da
América Latina e, nos últimos anos, também em grande escala na Turquia, Tunísia
e outros países do Magreb. Através destes programas, para os adeptos do
sistema, os hoteleiros garantem melhores taxas de ocupação todo o ano.
"Mas eu não pago ordenados com taxas de ocupação", argumenta José
Carlos Leandro, para quem o que conta é o "resultado final" e há
"mais turistas, mas caem as receitas".
Carlos
Cabrita salienta que o Algarve "não pode ficar fora das novas tendências
do mercado". O hotel Náutico para aderir a este modelo de funcionamento
adaptou os bares e restaurantes, para ir ao encontro de clientes menos
exigentes na qualidade e mais motivados pela quantidade. No passado recente, as
companhias aéreas low cost revolucionaram o mercado turístico com voos a baixo
custo. Dessa forma, contribuíram para a fusão de operadores. Nos anos de 1980,
recorda José Carlos Leandro, a região algarvia trabalhava com "centenas de
operadores e hoje está reduzida a cinco grandes operadores". A curto
prazo, prevê, o consumidor é que "vai pagar a factura, porque deixa de
haver equilíbrio entre a oferta e a procura".
O
director do Vila Galé, grupo que pratica o "tudo incluído" nas
unidades do Brasil, considera que é uma "inevitabilidade", na medida
em que o sistema se "alargou à Europa, já não se fica só pelos destinos
exóticos". E destaca que a negociação entre hoteleiro e operador não
implica exclusividade. "Ficamos com uma percentagem de quartos para que a
unidade possa receber clientes que querem apenas o alojamento com
pequeno-almoço". O Algarve, no contexto turístico mundial, nota o
dirigente da AHETA, "ocupa uma percentagem residual, e por este caminho
vai perder a imagem de qualidade que ainda possui no mercado". Os
empreendimentos das Caraíbas, sublinha, "criaram o all inclusive para que
os clientes não saíssem do empreendimento por motivos de segurança". Ora,
a segurança, remata, é uma das vantagens competitivas que Portugal tem para
oferecer no sector do turismo.
Notícia:
Ana Banha/Público
Foto:
Al-Fachar