sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Albufeira imita resorts das Caraíbas alugando quartos com pulseira

José Carlos Leandro, vice-presidente da AHETA

Cinco hotéis de Albufeira aderiram ao sistema do "tudo incluído" para garantir melhores taxas de ocupação. "Não pago ordenados com taxas de ocupação", contrapõe um hoteleiro, que rejeita a massificação.

A hotelaria algarvia adoptou o pacote de alojamento com "tudo incluído", à semelhança do modelo usado nos resorts das Caraíbas. "Estão a matar o Algarve", alerta José Carlos Leandro, vice-presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), criticando a iniciativa. "O Algarve não é as Caraíbas, não tem dimensão nem foi concebido para esse tipo de oferta", avisa.

O turista tradicional, que gosta de descobrir o sítio onde se encontra, defende José Carlos Leandro, "não gostará de se sentir um prisioneiro, com pulseira, dentro de um empreendimento". Quem aderiu ao sistema, lançado por grandes operadores turísticos, discorda: "Temos que nos ajustar ao mercado", diz o director do grupo Vila Galé, Carlos Cabrita, lembrando que a cadeia hoteleira fez este ano "uma aposta" numa das nove unidades que possui na região, e o resultado tem sido "muito positivo, em termos de adesão de clientes estrangeiros e portugueses".

O dirigente da AHETA considera uma "ilusão" a política seguida por alguns hoteleiros. "Estão a afundar o Algarve porque mais tarde ou mais cedo os grandes operadores ficam com tudo na mão, são eles que decidem, fazem o preço e ditam as regras". O director do Vila Galé admite que já se verifica um pouco isso. "Os operadores é que nos propuseram esta modalidade", revela. O Vila Galé Náutico, em Armação de Pêra, com 225 quartos, com o sistema "tudo incluído" desde Março, pratica preços por pessoa de 70 a 75 euros, na época baixa, e de 110 euros, no Verão.

A zona de Albufeira é a que está a ser mais procurada para entrar neste programa de pacote turístico. Cinco unidades estão a funcionar neste sistema. O cliente aloja-se numa unidade e pode comer e beber durante todo o dia, sem pagar mais por isso. O preço final é inferior ao custo do serviço à la carte praticado na generalidade dos hotéis. O modelo há muito que vigora nos destinos exóticos da América Latina e, nos últimos anos, também em grande escala na Turquia, Tunísia e outros países do Magreb. Através destes programas, para os adeptos do sistema, os hoteleiros garantem melhores taxas de ocupação todo o ano. "Mas eu não pago ordenados com taxas de ocupação", argumenta José Carlos Leandro, para quem o que conta é o "resultado final" e há "mais turistas, mas caem as receitas".

Carlos Cabrita salienta que o Algarve "não pode ficar fora das novas tendências do mercado". O hotel Náutico para aderir a este modelo de funcionamento adaptou os bares e restaurantes, para ir ao encontro de clientes menos exigentes na qualidade e mais motivados pela quantidade. No passado recente, as companhias aéreas low cost revolucionaram o mercado turístico com voos a baixo custo. Dessa forma, contribuíram para a fusão de operadores. Nos anos de 1980, recorda José Carlos Leandro, a região algarvia trabalhava com "centenas de operadores e hoje está reduzida a cinco grandes operadores". A curto prazo, prevê, o consumidor é que "vai pagar a factura, porque deixa de haver equilíbrio entre a oferta e a procura".

O director do Vila Galé, grupo que pratica o "tudo incluído" nas unidades do Brasil, considera que é uma "inevitabilidade", na medida em que o sistema se "alargou à Europa, já não se fica só pelos destinos exóticos". E destaca que a negociação entre hoteleiro e operador não implica exclusividade. "Ficamos com uma percentagem de quartos para que a unidade possa receber clientes que querem apenas o alojamento com pequeno-almoço". O Algarve, no contexto turístico mundial, nota o dirigente da AHETA, "ocupa uma percentagem residual, e por este caminho vai perder a imagem de qualidade que ainda possui no mercado". Os empreendimentos das Caraíbas, sublinha, "criaram o all inclusive para que os clientes não saíssem do empreendimento por motivos de segurança". Ora, a segurança, remata, é uma das vantagens competitivas que Portugal tem para oferecer no sector do turismo.

Notícia: Ana Banha/Público

Foto: Al-Fachar