sexta-feira, 17 de agosto de 2012

ALGARVE | Ocupação a 100% na primeira quinzena de Agosto com mais turistas mas menos dinheiro

Praia dos Pescadores - Albufeira - Agosto 2012

Mais turistas, sobretudo estrangeiros, mas menos dinheiro. Foi assim no Algarve na primeira quinzena de Agosto e a situação deverá prolongar-se por mais uma semana.

"Este mês temos estado a 100%, tal como nos anos anteriores. Apesar de termos menos portugueses [-10%] e espanhóis [-20%] na região, vieram mais turistas do Reino Unido, da Alemanha e da Holanda", disse ontem ao CM o presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA).

Para Elidérico Viegas, as perspectivas para a segunda quinzena de Agosto são de "casa cheia" até quase ao final do mês. Na última semana, porém, as taxas de ocupação começam a baixar.

Ao aumento do número de turistas estrangeiros não correspondeu, contudo, um maior volume de negócios. Pelo contrário, houve uma diminuição "de 5% relativamente ao ano passado", frisou o responsável da AHETA.

Opinião semelhante foi manifestada ao CM por vários empresários ligados ao sector. Na Marina de Portimão, Elza Jacinto explora uma tabacaria e acha que "este ano, o poder de compra dos turistas baixou cerca de 30%": "Antes, um casal levava um jornal e duas revistas, agora só leva um artigo." As suas perspectivas para a segunda quinzena são pessimistas: "Dia 15 foi o primeiro dia de Inverno, daqui para a frente é sempre a descer", diz.

Já João Reis, que explora uma concessão de insufláveis, gaivotas e canoas na praia, acha que o negócio "está igual ao do ano passado". Mas, frisa, "há anos que os preços não aumentam". Os seus clientes são sobretudo franceses, espanhóis, holandeses, alemães e ingleses. Há também muitos emigrantes, pois, sublinha, "Agosto é o mês deles".

Nos bares e restaurantes da praia da Rocha e de Albufeira, os empresários garantem que a primeira quinzena "não foi má", mas são unânimes ao falar da quebra dos turistas nacionais e espanhóis.

A verdade é que até a venda de bolas-de-berlim e águas, na praia, registou neste Agosto uma quebra acentuada: "Vendi menos 50% do que no ano passado e sobretudo a portugueses", revelou ao CM Laurindo da Cunha, vendedor ambulante na praia de Alvor, Portimão.

DISCURSO DIRECTO

"FALTA VISÃO ESTRATÉGICA", António Pina, Presidente do Turismo do Algarve

Correio da Manhã – Que balanço faz da primeira quinzena de Agosto?

António Pina – Embora sem números rigorosos, acho que foi um bom período. Tivemos menos turistas portugueses e espanhóis, mas mais de outras nacionalidades. A segunda quinzena será semelhante.

– Mas isso representou mais dinheiro?

– Não, pois eles gastaram menos. Já em Junho e Julho tivemos mais turistas, mas menos proventos.

– Quais as consequências?

– Não fica dinheiro para a época baixa, que se aproxima, e o desemprego poderá aumentar a partir de Outubro. E assim é cada vez mais difícil garantir a sustentabilidade do turismo algarvio: dois ou três meses não bastam.

– Onde é que se está a errar?

– Falta-nos uma visão nacional estratégica. Não aproveitámos a crise do Norte de África e da Grécia. Se tivéssemos investido na promoção do Algarve já tínhamos retorno.

CINCO HOTÉIS ALGARVIOS COM TUDO INCLUÍDO

Pelo menos cinco unidades hoteleiras algarvias – o Hotel Vila Galé Náutico, em Armação de Pêra, o Pestana Delfim, em Alvor, e unidades do grupo Barata, em Albufeira – aderiram ao sistema ‘All inclusive’ (‘tudo incluído’), à semelhança das Caraíbas, para atrair turistas do mercado externo. "Está a resultar", garantem os empresários.

TURISTAS HOLANDESES 'SALVARAM' ALBUFEIRA

Cerca de dez mil jovens holandeses, com idades entre os 18 e os 25 anos, invadiram as praias e a noite de Albufeira desde a segunda quinzena de Julho. Para os operadores turísticos locais, "foram eles que salvaram o Verão".

"Este ano tivemos muito menos portugueses e espanhóis em Albufeira. A crise afasta os turistas nacionais e as portagens da A22 desagradam aos nossos vizinhos, que também estão com bastantes problemas financeiros. Se não fossem os holandeses, que vieram em massa depois de Albufeira ter sido considerada, no país deles, como o melhor destino de praia do Mundo, estávamos mal", referiram ao Correio da Manhã empresários do sector da restauração local.

"Aqueles jovens têm um poder de compra bastante razoável – muito superior ao dos portugueses – e vieram para cá festejar e gastar dinheiro. As agências negociaram estadias baratas e eles tinham ainda descontos em bares, o que constituiu um atractivo suplementar", esclareceram, adiantando que ainda há muitos destes turistas na zona.

Notícia Ana Palma/CM
Foto Al-Fachar